terça-feira, 30 de agosto de 2016

Hanna Halm


Hanna Halm é uma poeta, escritora, ilustradora, zineira e musicista nascida em 1993 em Queimados, no Rio de Janeiro.
Participa do coletivo de publicações independentes Drunken Butterflye e integra o selo fonográfico fluminense Efusiva.
Tem poemas publicados no blog Poema Diário e no jornal Plástico Bolha.
Os poemas abaixo são inéditos.




Domus Aurea

não sei de onde vem
nossas linhas cordiais
aos sorrisos pantominos
da antiga casa dourada
em uma Roma de dedos frios e
incêndios recônditos,
privativo desejo de
acharmos uma a outra
em um caos (re)conhecido
e evadir a liberdade que
não temos
as bocas dizem por
metade, a fala
rasgada gravura que cobiçamos
revelar entre os encontros
racionados pelos dias
de alguma paz.
te espero
mesmo caio perdida em
seu caminho brincadeira
quando corro
pela sala que nos
observa querer uma
a outra
dúvida mania de
olhos flama que
nos abraça
em nosso abraço
e zomba dos muros que
cedem a nossa
sede em
descoberta



#



Deixem abertos os meus olhos

deixem abertos os meus olhos, e
sobre o meu peito
feche minha mão
como uma cuia a espera de
lágrimas repreendidas.
compreenda minha altura,
metragem antiquada de índia
(misto de sangue e confusão)
calce-me com botas moles
gastas pelo couro judiado
que andei a vida.
quero sussurros de adeus
ditos ao pé do ouvido surdo
quero meus cabelos penteados
com a calma da escrita
e minha camisa branca
de botões e gola livres
casando minha
íris fosca,
seca feito a boca
que se há de morder.
não hei de perder no breu
tal antropofagia
declarada no berço
que cedo me deitei
e retorno em perímetro maior
para até onde dura
a poeira na vista
que agreguei durante os dias.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Fred Spada


Fred Spada é um poeta e tradutor nascido em Belo Horizonte, em 1982, e atualmente vive em Juiz de Fora/MG.
Graduado em Letras e mestre em Estudos Literários pela UFJF, cursa atualmente o doutorado em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio.
Publicou a plaquete Coleção de ruínas (http://goo.gl/cC1XtP), em segunda edição pelas Edições Macondo (2014), e o livro Arqueologias do olhar (http://goo.gl/i9yqZL), pela Funalfa (2011), além de poemas e traduções em revistas literárias do Brasil e do exterior.
Participou das exposições Poesia Agora (Museu da Língua Portuguesa, 2015) e Cidade de Pano (PUC-Rio, 2016).
Mantém no YouTube o canal “Juiz de Fora - História lírica”, com depoimentos de poetas ligados à cidade (https://goo.gl/MiyAXq).


Foto de Eduardo Malvacini



O ensaio como forma


Uma crítica de cabotagem
que aporte nos corpos

corpora—

para desenhar
sua cartografia.



#



Por uma poética do picadeiro
(Ao Alexandre Faria)

A lágrima palhaça
retira da cara
sua única verdade:
a maquiagem
se esvai
e leva o sorriso insosso
com que a plateia
ri de si mesma
encarnada no Outro.




#



Messe


É ávida a fome
dos que têm pão.




#



I
Ars Poetica

É nos vazios
da vida
que a imaginação
se escreve.


II
Ars Imprimendi

É nos vazios
da tinta
que a história
se inscreve.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Poema inédito de William Zeytounlian


William Zeytounlian é um poeta nascido em São Paulo em 1988. É mestre em História, tradutor e esgrimista profissional. Diáspora, seu livro de estreia, foi lançado pela editora Demônio Negro em 2015.
Sua escrita, embora contemporânea, busca sustentação em estilos tradicionais e fortes. Exemplo disso é o poema inédito que segue abaixo, com fortes motivos barrocos.




Quadras
baseados em fatos reais


Vã é a busca em que te busco
pois não te achar é o que me resta;
se me aproxima do olho a fresta,
só vejo a mim e isso é tudo.

Não vir ao outro e ver-se a si:
versa assim toda essa angústia.
Pois se em ver-me verto astúcia,
é vã sua busca, mesmo assim.

Resta então desencontrar-se
e desbravar uma outra parte.
Desdobrar-se com mais arte,
de si morrer no que renasce.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Tiago D. Oliveira


Tiago D. Oliveira é um poeta, professor e pesquisador nascido em 1984, em Salvador – Bahia. Estudou letras na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e na Universidade Nova de Lisboa (UNL).
Tiago tem poemas publicados em portais, revistas e jornais especializados como Cultverso, Cronópios, Hyperion, Escamandro, Enfermaria 6 e jornal Livre Opinião.
Em 2014 publicou Distraído, seu primeiro livro de poesia.
Atualmente desenvolve pesquisas sobre a ética dos afetos em formas breves na literatura portuguesa e escreve regularmente em seu blog.
Sua poética direciona-se para o cotidiano e seus assombros, e demonstra um olhar atento para o sutil e muitas vezes ignorado mundo das percepções imediatas. Para ele, a vida é feita de pequenos gestos, e do olhar direcionado ao outro.




Primeiro passeio de bicicleta
O homem que pedala que ped’alma
com o passado a tiracolo,
ao ar vivaz abre as narinas:
tem o por vir na pedaleira.
Alexandre O’neill

nos pedais o corpo
alto e baixo nos pedais
os dias sob a nudez
do metal lírico
cortando o tempo
a velocidade que atrai
passou o cheiro do mato verde
sobre o guidão: refluxo
pedalo perto do chão
flutuo com as marcas
sob os olhos
são os dias
tudo cabe nos pedais
o corpo alto e baixo nos pedais


#


Segundo passeio de bicicleta

pedalo sem as mãos na direção
com o corpo em formato de cruz
tendo o caminho para a fé
dentro das ondulações do movimento
as respostas se organizam
tudo está nos pedais


#


A lei de causa e efeito

é movimento
como perceber na imagem o trem que passou
dançar acontece
diante da fumaça nos trilhos
para onde vamos é sempre ontem
as marcas que carregamos são
o segredo morando nos ossos
dançar é ganhar a confiança
de um corpo que carrega fim
é detê-la na imagem de folhas caídas
é o ar inspirado depois da gargalhada
por isso também cantamos
por não domarmos a nossa fé
é preciso dançar para compreender a dança
e entender o bumerangue


#


Você não consegue sentir duas dores ao mesmo tempo, uma anula a outra

uma pontada na cabeça
a fez pensar na morte
agarrou-se às fotografias
e de olhos fechados esperou
ele lhe deu um bofete
depois riram e rezaram
para Baco com o estômago
rim língua ponta dos dedos sexos