Este, definitivamente, não foi um
ano fácil, mas a poesia continuou circulando pelas ruas de Juiz de Fora, em
Minas Gerais, através do trabalho dos editores Otávio Campos, Fernanda Vivacqua
e Anelise Freitas que, juntos, constroem o projeto editorial Edições Macondo, editora
que possui a premissa de publicar livros poéticos e afetivos. E para fechar
esse ano repleto de “ai, Jesus”, os editores organizam “O último baile do ano”,
que promete lançar os trabalhos das editoras Fernanda Vivacqua, com seu primeiro
livro de poemas, intitulado Maria Célia
e prefaciado pela também poeta Prisca Agustoni, e Anelise Freitas, que
apresenta seu box especial com todos os livros que compõem a sua obra poética e,
até então, esgotados.
Além
disso, a tarde contará com o lançamento do sétimo número da “OGaribaldi –
Revista de Poesia” e a leitura dos poetas Anderson Pires da Silva, André
Capilé, Anelise Freitas, Fernanda Vivacqua,Laura Assis, Otávio Campos e Prisca Agustoni.
As Edições Macondo convidam para a festa de lançamentos, que acontece no dia 17
de dezembro, às 16h30, na BartlebeePães e Livros (Rua Antônio Altaf, 460.
Cascatinha – Juiz de Fora, MG).
SOBRE OS LIVROS
Maria
Célia, de Fernanda Vivacqua
Muitas mulheres
atravessam o livro de estreia de Fernanda Vivacqua, Maria Célia. Não é surpresa que mais uma voz feminina surja nesse
cenário já marcado por nomes como Anelise Freitas, Laura Assis e Prisca
Agustoni, muito menos que este trabalho, apesar do caráter de estreia, traga a
consistência de um projeto poético que parece ter sido construído com muito
cuidado. Fernanda Vivacqua já frequenta os saraus da cidade há algum tempo e
possui aquela rara capacidade de hipnose com a voz que é tão importante para os
poetas cantores que sobrevivem os séculos. Já era a hora de conhecermos,
portanto, as partituras.
Uma entre as várias, a
personagem que dá título ao livro pode ser o retrato da avó como a memória
soube carregar, ou um reflexo dessa mesma avó que ainda vive, estático, no
espelho. Os círculos que se traçam em torno da imagem a ser trabalhada chegam
no poema pelas repetições do nome, da avó, do nome avó, que pouco importa se é
a minha, a sua ou a da poeta, mas deve retornar entre um verso e outro para que
viva: “ainda assim / eu preciso falar sobre minha / avó / que carregava no nome
/ a inflexão do ar poluído”. Segundo Prisca Agustoni, o livro de estreia de
Fernanda Vivacqua é, ao mesmo tempo, denso e fascinante, enquanto “se abre com
as coordenadas desse mundo em gestação, um mundo particular atravessado, o
dela, pela presença da natureza e do silêncio”.O que importa mesmo, no poema ou
neste livro, é como o nome fica marcado na memória e no espelho: neste último,
de batom, que tendo a acreditar que é vermelho: “quando preciso falar sobre a /
minha avó e seu nome / escrevo no espelho de batom / para não me esquecer /
Maria Célia”.A memória, sobretudo a do corpo, é o que liga os poemas desse
livro. Maria Célia Fernanda Vivacqua
tende a escrever a memória como quem manipula um filme fotográfico.
Presa no quadro a
imagem parece reter toda a violência do indomável. Não é a memória, é uma
fotografia. Isto, antes de tudo, é um livro, não é a memória. Maria Célia é um acerto porque não se
propõe a ser um álbum de memórias, mas se impõe como uma coleção de presenças.
Cabe à estética pensar melhor a recepção e a nós leitores encontrar o livro não
como uma seleta de retratos da autora. A memória é o que
vem depois do poema e este é apenas o primeiro plano do filme.
(excertos
da resenha de Otávio Campos para a OGaribaldi #07)
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Obra
reunida (2011 – 2015), de Anelise Freitas
O
box, com os três livros já publicados pela poeta Anelise Freitas entre os anos
de 2011 e 2015, é uma edição especial feita pelas Edições Macondo. A reunião
conta com o primeiro livro da poeta, lançado em 2011, pela Aquela Editora.
Naquele dezembro, há cinco anos, o Vaca
contemplativa em terreno baldio nascia como um prospecto poético, que
convergia um corpo feminino sagrado e a linguagem, ou a busca por ela.
Em
2013, em uma tentativa de trabalhar não só a linguagem, mas a feitura do objeto
estético como um todo, a poeta edita o livro artesanal O tal setembro. A partir da proposta de recriar os dias do mês de
setembro de 2012, a poeta buscou uma poética astrológica, isto é, que
respondesse no Universo as questões da própria linguagem. Assim, de uma
conversa com uma amiga astróloga, a poeta pensa o projeto que se baseia na
memória.
Além
desses dois títulos, compõem a tríade o livro Pode ser que morra na volta, que foi, originalmente, publicado
pelas Edições Macondo em 2015, na primeira coleção da editora, os “Cadernos de
Ausência”. Pensado e apresentado como um Mamafesto, a poeta encerra um projeto
poético, que já havia perpassado o corpo e a memória, mas nessa plaquete se deu
como um pensamento da linguagem como um híbrido que em si (e por si) culmina em
metalinguagem, isto é, a metalinguagem é a linguagem. Nesse livro, o corpo e a
memória se misturam às línguas.
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SOBRE AS AUTORAS
Fernanda
Vivacqua nasceu no Rio de Janeiro/RJ (1992), mas cresceu em
Juiz de Fora/MG, onde vive até hoje. Conclui esse ano a graduação em Letras, na
Universidade Federal de Juiz de Fora. Teve seu primeiro poema publicado na
revista OGaribaldi e estreia em livro com Maria
Célia. Participa do corpo editorial das Edições Macondo.
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Anelise Freitas nasceu em Lima Duarte/MG, aos pés da Serra do Ibitipoca, mas vive em
Juiz de Fora desde 2007. Graduada em Comunicação, finaliza a licenciatura e mestrado em
Letras na UFJF, com ênfase em Estudos Literários. Publicou os livros de poemas Vaca
contemplativa em terreno baldio (Aquela Editora, 2011), O tal setembro
(Edição da Autora/Os 4 Mambembes, 2013) e Pode ser que eu morra na volta (Edições
Macondo, 2015). Já publicou poemas na Revista Garupa, Enfermaria 6, Mallarmargens,
Avenida Sul, jornal Plástico Bolha, Um Conto, entre outras. A partir de 2011 ingressou
na produção editorial, quando passou a integrar o grupo de poetas Eco Performances Poéticas.
Desde então, organiza eventos, produz material e conteúdo relacionado à literatura e cunhou
oficinas de criação. Em 2016, participou como poeta, tradutora e editora convidada do
VI Festival de Poesía Latinoamericana de Bahía Blanca (Argentina) e integrou a
"Tropa Voluntaria: antologíadel VI Festival de Poesía Latinoamericana
de Bahía Blanca" (Bahía Blanca: Vox/Lux, 2016).
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SOBRE A EDITORA
A
Edições Macondo surgiu como uma fábrica de plaquetes, em 2014. Atualmente,
dedica-se a publicar pequenas tiragens de livros ainda não conhecidos. Cada
livro é finalizado manualmente, tornando-o uma peça exclusiva, cuidada e
pensada coletivamente, de modo a incitar novas geografias afetivas, políticas e
poéticas. Já publicou mais de uma dezena de livros inéditos, de poetas do Brasil
e da Argentina.