Luiza Bastos (Lu Bastos) é uma poeta e
produtora cultural nascida em 1998 em Madureira, no Rio de Janeiro.
Sua
escrita poética, confessional e livre, por vezes adota os contornos da prosa e
se aproxima muito do tipo de narrativa que se faz de maneira espontânea,
seguindo o fluxo de consciência.
A
Lu tem como referência as suas vivências na Baixada Fluminense, bem como boa
parte dos e das poetas que a compõem. Ela afirma que encontrou na poesia uma
forma de respirar e sobreviver ao mundo, e diz que os poemas fazem parte do seu
dia a dia e costuram suas fases de vida, ora boas, ora ruins, porém sempre
líricas.
Eu
não gosto de Ana Carolina
suja
de pétalas
das
flores que deu pra outra
e
de nojo da tua orelha
onde
ela consegue alcançar
com
resquícios
de
traição e paixão
me
arranco da tua pele
e
de teus escritos
te
condenando a dor
de
não me ter eternizada
no
papel,
somente
no beijo confortável
que
só eu posso te dar
sendo
assim, me recolho
espero
o sino marcar
19h
em ponto
e
morro dentro de ti
pois
o que ta vivo
grita
ama
e
morre
essa
é a minha lei:
vivo
viva porque
morro
sempre que possível
e,
há vidas atrás, voltava por você
hoje
volto pela outra
a
qual você manchou nossa cama
com
o sangue e suor
do
teu ato falho e sem pudor
dessa
vez, por infelicidade
não
encontrei moedas pelo chão
mas
sim aquele vestido
azul
clichê que te dei
pra
eu te despir
doeu
mas
tomo um café
fumo
todo teu cigarro
te
escrevo por 13h seguidas
enlouqueço
e
me faço uma tela
onde
deixo sangrar em mim
um
lindo quadro abstrato;
me
faço perfume
cocaína
e
enfim
poesia.
#
Resposta
ao poema "Carta" do poeta Guarnier
Hoje
é um bom dia pra escrever uma carta.
Li
no jornal que uma tempestade se aproxima da tua casa. Sugiro que conte os
passos até aqui e espere a chuva passar. Reconte. São só sete passos - um para
cada dia -, três cigarros, um cheiro e o beijo eterno que marca o fim da
noite.
Eu
tiro tua roupa do meio do caminho, garanto que tiro. Em seguida tiro a roupa que
atrapalha teu caminho até mim.
Espero
que o tempo demore a passar.
Você
cozinha, eu arrumo o lençol.
Você
se queima, eu fecho as janelas.
Você
se serve, eu tiro a mesa.
Depois
disso o tempo correu. Voou. Mas medi o tempo certo pro teu suor se contentar com
o meu. Foi tudo feito em tempo. E agora já não há mais tempo pra contar, medir
ou cronometrar.
Hoje
está um lindo dia pra ser domingo, eu olhei no Astros. Li a combinação dos
nossos signos e nenhuma parte nos interessa mas tudo que li é lindo.
Descobri
que sua Vênus é em Marte e por isso tua fé é só no amor. Mas Deus perdoa,
esteja certa disso.
Porque
hoje está um dia lindo pra fazer poesia e deixar a solidão de lado, mastigada
pelos novos tempos de euforia, jogada na calçada mais próxima e condenada a ser
só solidão.
É
baby, hoje está um lindo dia pra fazer poesia. Prometo que está.
E
se puder, venha só com o amor. Dou a cara a tapa. Me bata! Eu não vou me
defender, você sabe que não. Do amor eu apanho.
#
O
texto de amor que eu teria enviado se na verdade não fosse um texto de morte
após a morte
existem
sequências de palavras que tiram o ar e desmontam o peito
e
algumas que roubam as palavras das bocas das outras pessoas e elas não sabem o
que dizer.
e
ainda existem as palavras que nem existem mas que se você olhar dentro de você,
as encontra em forma de sentimentos que você nunca conseguiu entender, só
sentir.
essas
são as palavras que eu gostaria de te escrever nessa segunda feira, essas
palavras que não são formadas através de letras e sim por cada beijo lento que
você me dá quando decide arrancar minha alma, por cada “eu te amo” que você
fala como quem come lasanha de quatro queijos e quer outra. eu quero lhe
escrever as palavras que você escreve em mim toda vez que fica nua e encaixa
teu peito no meu.
eu
não sei porque eu ajo como se você fosse só uma brisa passageira se eu sei que
você é um mar inteiro, forte, revolto, que vira e mexe vem acompanhado por um
vento quase tão frio quanto as noites são sem você do lado.
eu
não sei de mais nada além da dor que eu sinto por sentir por você tudo que eu
sinto, da forma que eu sinto, com a força que eu sinto, mas eu desisti de lutar
contra isso. você é a minha palavra preferida, meu poema mal escrito, meu tom
de pele preferido, minha marca no pescoço mais duradora, meu perfume mais
lembrado, meus dias com as noites mais longas, você é a meta à ser atingida, a
noite de sexo mais gostosa, o medo mais incrível de sentir. você é o meu dia
25, meu dia 29, meu dia 26, e em julho você é o mês inteiro.
correr
disso é muito mais difícil do que resolver arriscar, do que tirar toda a minha
roupa e todas as malhas que me cobrem a alma porque eu não consegui deixar de
me fazer de perfume, mesmo que o seu cheiro preferido seja outro. a essência do
perfume que eu sou hoje é o teu sorriso que é a única parte sua que eu consegui
memorizar até agora e ele fica mais lindo ainda nas minhas lembranças borradas
pelas lágrimas que me escorrem agora.
eu
não sei o que você fez comigo ou o que desejava fazer. eu nem sei se você tem
consciência da história que a gente tem (ou da que parece existir só na minha
cabeça), mas eu preciso entender tudo isso, preciso me sentir segura pra dizer
que existe um amor que é nosso e não só meu. preciso alguém que decida de uma
vez por todas viver comigo do jeito certo que se vive com alguém porque eu
cansei de não saber mais pra onde ir com você, cansei de pisar num chão de giz
de cera. eu quero riscar estrelas no chão e te passear no céu porque você ainda
é meu pedido pra toda estrela cadente nesse céu cruel da baixada fluminense.
eu
queria memorizar tudo isso que estou escrevendo agora pra te dizer com a minha
voz e queria que passássemos esta segunda-feira da forma que planejei
mentalmente e queria você aqui do meu lado, depois de um dia de trabalho e
queria demais te servir o jantar que demorei horas pra decidir qual seria
porque eu só conseguia pensar em te dar logo a sobremesa que você não come já
faz um tempo e eu sinto muito por isso. mas eu não tive força nos últimos dias,
não tive a menor condição de levantar meu corpo e sentir de verdade a ventania
do último mês porque a bagunça da vida já me deixa louca o suficiente. e o
buquê que eu planejei comprar é mais caro do que eu pensei. e tá doendo mais do
que eu penso que posso aguentar sóbria, então deixo que as palavras me ajudem e
tô aqui te escrevendo.
escrevo
pra que saiba que todos os nossos beijos no último ano foram os meus
preferidos, que dormir sem você é horrível e que se dependesse de mim eu dormia
contigo todo dia. não sei mesmo a data do teu aniversário mas sei a do nosso
primeiro beijo mas gravaria uma e esqueceria a outra se você quisesse.
eu
quero a última chance e mais nenhuma. quero fazer dar certo. não aguento mais
tentar te esquecer de mês em mês. quero me comunicar com você, quero você, a
gente.
eu
tô morrendo de saudade.
e
sim, saudade mata sim, bem devagar e cada pouco que ela cresce, parece que mata
novamente.
me
perdoa por todo silêncio e ausência até agora. por todo grito contido e toda
amostra grátis da minha maneira errada de mostrar que amo. me perdoa por sempre
duvidar e por esse medo cítrico de confiar, de acreditar, de baixar a guarda e
me entregar de verdade. me perdoa por todo passo torto até aqui.
desejo
de corpo e alma que ainda me queira e que a porta ainda esteja aberta.
se
olhar nos meus olhos vai ver que ainda não acabou e espero que nos seus também
não tenha acabado.