sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Luís Perdiz

Luís Perdiz é um poeta, compositor e editor nascido em Campinas, SP.
Autor do livro Saudade mestiça (Editora Patuá, 2016), ele edita o portal de literatura Poesia Primata, voltado para a degustação e difusão da poesia brasileira contemporânea.
Faz parte do projeto musical autoral Estranhos no Ninho e publica regularmente em revistas de literatura e antologias, obtendo menção honrosa na 23ª edição do Programa Nascente USP.
Vive atualmente em São Paulo e pode-se encontrar mais informações sobre ele em seu site pessoal.




Templo


nunca intacto
repouso nesta superfície de cascalhos
sonhos aprendidos ao hálito da terra

lágrima primata incrustada na labareda
planície viva do princípio
tarde marmórea por onde encontro
suas coxas quentes
secretamente solares




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Córregos


bota imersa na
flora do destino
brilho transatlântico
fincado em alma

auroras e cachos
moto infinita na neblina

dilúvio de nuances
improvisando verões

o jazz campestre na barraca da noite
desfigurava também o interior de nossos pulsos




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Você me enche de areia


gargalhada nua e seca
me atrevo na pulsação réptil
e a imobilidade da árvore fascina a fome inexata

dois meses desfizeram meu herói amador agora vivo em conchas
pirâmides se entulham em meus pulmões
            sou um golpe cinza numa guerra sem mira entre vespas                                                                         
as lunetas estão sangrando juros
um atlas só de rostos me envolve feito âncora
sabor cru e indomável de vida afunda vida afunda vida afoga
     olho já sem filme
     osso já sem firme
retorcidas possibilidades evaporadas num aquário
            blues suspenso da extinção
     estiagem a dois resgatada em sua sede
     cessem os monstros assassinos páginas de números   
     hospícios hospitaleiros balas anestésicos        
                                                                                                                                                                quero a euforia turva dos contrastes deslumbrantes
as ostensivas horas da tempestade feito whisky
numa sacada de primavera tingida em chagas




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Playground


o que mais me relevava naquele
playground vazio
era o silêncio
igual ao meu

infância fantasia atravessada
merthiolates colos contrastes
amigos imaginários
todos eles filhos únicos

ensimesmado
pressentia sons de macondo

outras partes longas
indefinidas
longe do baile de minotauros




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Estadia



sempre na sua casa
os vitrais se entrelaçam
as teias desnudam o tempo

as peles se dissolvem
meu alicerce mais valente
assiste o horário

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