Marize
Castro é uma poeta e jornalista nascida em Natal, Rio
Grande do Norte, em 1962. Publicou os livros Esperando ouro (2005), Poço,
festim, mosaico (1996), Rito
(1993) e Marrons crepons marfins
(1984).
Publicou em revistas
brasileiras e internacionais.
Abaixo, uma amostra de
sua produção.
Assombro
Corais paralisam suas
presas.
Observo neste aquário
tubarões de terrível beleza.
Quem me lançou dardo,
deitou-se comigo.
Quem me amordaçou,
gozou em silêncio.
Tenho na bolsa um
coração assombrado.
Mas tão inocente e
jovem que dá medo.
E
me sustenta.
#
Nova
ordem
Um silencioso menino
senta ao meu lado.
Ele é tão leve que me
faz procurar asas
no seu pequeno corpo.
Deve voar, penso eu.
Liberta-me o que ele me
diz:
Sou o seu último amor. Sua nova ordem.
Amparo-me na lua que se
mostra vermelha
– destinada ao
extravio.
Agora sou mulher-folha,
mulher-livro, mulher-esquife.
Tornei-me
fiel ao canto do deserto.
#
Suspensa
Oráculos me suspendem.
Ouço o Amor chamando.
Em cada país um
diferente unguento
para suportar a viagem.
O desejo é a curva.
O grande véu com o qual
me cubro
– e prossigo.
Se você não voltar
os bailarinos ficarão
órfãos.
Se você não voltar
a vertigem será
silenciosa.
E não será o fim.
Será
o início do grande segredo.
#
Solar
Cadáveres despertam
depois do amor.
Lágrimas choram e se
estrangulam.
Não sou a mulher que
você vê.
Não sei o que é o
inverno
– nunca vi a neve.
O
meu ofício é reinventar asas para o sol.
#
De
veludo e sangue
Porque declino do seu
amor, o véu das torres me invade.
Já engoli espermas. Já
voei muito alto.
Aos santuários de
meninos-lodos e meninas-ostras.
Neste hemisfério, o
tempo é vermelho.
A fé: andrógina. A
inocência: anônima.
O amante: cego e
corcunda.
O meu leite rega a flor
que o inimigo trouxe.
Aqui não há solidão
há bosques de lágrimas
unicórnios reunidos
para falar de amor
aranhas flutuando num
mar
de
veludo e sangue.
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