Antonio LaCarne é
um poeta cearense, nascido em 1983. .
Seus textos estão presentes em revistas e suplementos literários.
Formado em Letras-Inglês
pela Universidade Federal do Ceará, é autor dos livros Salão Chinês (Patuá, 2014) e Todos
os poemas são loucos (Gueto Editorial, 2017). Participou das coletâneas A Polêmica Vida do Amor (Oito e Meio,
2011), A Nossos Pés (7Letras, 2017) e
Golpe: antologia-manifesto (Nosotros
Editorial, 2017).
transformação número 1
os
tigres dançam
no
mesmo círculo
em
que desmarcamos
encontros
esta noite
enquanto
é cedo
ou
tarde no planeta
perceber
que as janelas
se
partem
o
mundo suspende
os
rostos e as flores
que
precisam de água
mas
somente eu
viro
o rosto
não
sei se as ruas
mentem
ou caem
por
si mesmas
nem
se o universo
deixou
de existir
ao
fechar os olhos
mergulhar
na água
boiar
na piscina
evitar
a bebida
por
isso ao longe
alguém
se perde
não
quer voltar
e
abre um livro
para
esquecer.
#
não é difícil amar você
o
céu se perde em mim
mas
não em você
e
corremos separados nesta praia
onde
os homens
dançam
sorriem
esquecem
que eu também
sou
humano
mas
não posso encarar você
ou
subir numa árvore
e
pular lá de cima
como
se eu fosse uma pedra
que
você segura
e
lança na água
e
eu afundo
e
é raso
e
eu me perco
pois
ninguém imagina
que
na água existe um pedaço
de
mentira ou verdade
que
você escondeu
ou
não quis.
#
coraçãozinho
numa
fortaleza você e eu caímos
transbordamos
numa piscina nua
seus
azulejos gastos e os dentes como os nossos
não
plantariam flores ao redor
ou
seríamos ambientes nulos
mal
decorados
eu
me pergunto
se
aqueles poemas são realmente sinceros
se
vocês realmente se importam
com
a política
com
o outro
com
a menina suja de sangue
a
tarde que cai como qualquer frase
e
você pensa “isso é tão clichê”
o
vento rodopiando o boy na plantação de milho
o
roseiral desfeito
o
açougue por limpar
as
horas que não são coloridas
pois
preciso urgentemente reler aquele texto
me
aprofundar demais dentro de mim
dentro
do mar que eu mergulharia
as
declarações e o preconceito velado
não
sei o que fazer com isso, eu penso
menino
sujo de sangue
eu
que me derramei e que me pus a ofender.
#
os rostos
as
cascas são secas
os
rostos das pessoas
os
deuses periféricos
as
propagandas de Gatorade
os
sachês de ração dos gatos
são
secos os rostos
os
cabelos das bonecas
o
ticket alimentação ao meio-dia
os
colchões de molas
as it girls, os it boys
a
porta do quarto trancada
você
não está dentro
nem
fora.
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