segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Antonio LaCarne

Antonio LaCarne é um poeta cearense, nascido em 1983. . Seus textos estão presentes em revistas e suplementos literários.
Formado em Letras-Inglês pela Universidade Federal do Ceará, é autor dos livros Salão Chinês (Patuá, 2014) e Todos os poemas são loucos (Gueto Editorial, 2017). Participou das coletâneas A Polêmica Vida do Amor (Oito e Meio, 2011), A Nossos Pés (7Letras, 2017) e Golpe: antologia-manifesto (Nosotros Editorial, 2017).



transformação número 1


os tigres dançam
no mesmo círculo
em que desmarcamos
encontros esta noite
enquanto é cedo
ou tarde no planeta
perceber que as janelas
se partem
o mundo suspende
os rostos e as flores
que precisam de água
mas somente eu
viro o rosto
não sei se as ruas
mentem ou caem
por si mesmas
nem se o universo
deixou de existir
ao fechar os olhos
mergulhar na água
boiar na piscina
evitar a bebida
por isso ao longe
alguém se perde
não quer voltar
e abre um livro
para esquecer.




#




não é difícil amar você


o céu se perde em mim
mas não em você
e corremos separados nesta praia
onde os homens
dançam
sorriem
esquecem que eu também
sou humano
mas não posso encarar você
ou subir numa árvore
e pular lá de cima
como se eu fosse uma pedra
que você segura
e lança na água
e eu afundo
e é raso
e eu me perco
pois ninguém imagina
que na água existe um pedaço
de mentira ou verdade
que você escondeu
ou não quis.




#




coraçãozinho


numa fortaleza você e eu caímos
transbordamos numa piscina nua
seus azulejos gastos e os dentes como os nossos
não plantariam flores ao redor
ou seríamos ambientes nulos
mal decorados
eu me pergunto
se aqueles poemas são realmente sinceros
se vocês realmente se importam
com a política
com o outro
com a menina suja de sangue
a tarde que cai como qualquer frase
e você pensa “isso é tão clichê”
o vento rodopiando o boy na plantação de milho
o roseiral desfeito
o açougue por limpar
as horas que não são coloridas
pois preciso urgentemente reler aquele texto
me aprofundar demais dentro de mim
dentro do mar que eu mergulharia
as declarações e o preconceito velado
não sei o que fazer com isso, eu penso
menino sujo de sangue
eu que me derramei e que me pus a ofender.




#




os rostos


as cascas são secas
os rostos das pessoas
os deuses periféricos
as propagandas de Gatorade
os sachês de ração dos gatos
são secos os rostos
os cabelos das bonecas
o ticket alimentação ao meio-dia
os colchões de molas
as it girls, os it boys
a porta do quarto trancada
você não está dentro
nem fora.

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